Violeta Formiga: a poetisa paraibana que transformou a vida em versos e resistências

Natural de Pombal, no sertão da Paraíba, Violeta de Lourdes Gonçalves Formiga – a Violeta Formiga – deixou sua marca na literatura brasileira com uma poesia sensível, direta e profundamente ligada ao cotidiano. Poetisa e psicóloga, viveu intensamente seus 31 anos de vida, transformando dores, memórias e paixões em versos breves, mas de grande densidade lírica.
Filha de José Formiga e Dona Prima Gonçalves Formiga, passou a infância e adolescência em sua cidade natal, onde estudou no Colégio Diocesano e na Escola Normal Arruda Câmara. Em 1971, mudou-se para João Pessoa e ingressou no curso de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Foi nesse período que suas tendências literárias afloraram e seus primeiros poemas começaram a ser publicados em jornais locais, como no suplemento Correio das Artes, do jornal A União.
Assim como Augusto dos Anjos, Violeta teve uma trajetória curta, mas marcante. Publicou em vida apenas um livro, Contra Cena. Após sua morte, amigos reuniram textos inéditos e lançaram Sensações (1981), obra que se tornou uma espécie de retrato afetivo e poético da autora.
A crítica literária destacou a originalidade de sua escrita. Para Hildeberto Barbosa Filho, sua poesia era “rica, lírica e confessional, mas sem cair no subjetivismo”. Seus versos curtos revelavam uma grande paixão pela vida, refletindo emoções simples e profundas. O jornalista Evandro Nóbrega a descreveu como uma mulher pulsante, de energia contagiante, enquanto o artista plástico Domingos Sávio eternizou sua imagem em traços.
Tragédia e memória
A vida de Violeta foi interrompida de forma brutal em 21 de agosto de 1982, vítima de feminicídio cometido pelo marido, marcado pelo ciúme doentio. A violência que a calou, paradoxalmente, deu ainda mais força ao legado de sua poesia e à sua imagem como mulher sensível e resistente.
Poetas, amigos e cronistas registraram a perda com palavras emocionadas. Francisco Pereira Nóbrega lembrou sua essência livre ao citar a frase dita por ela: “Deixaram a gaiola aberta, o passarinho voou. Achei foi bom.”
Décadas depois, sua memória seguiu viva. Em 2016, foi homenageada com a peça “Liberdade para as Violetas”, escrita por Fábio Mozart e encenada pelo Grupo de Teatro Experimental de Itabaiana (Geti), cruzando trechos de sua obra com reflexões sobre a condição feminina.
O voo da poesia
Os livros de Violeta Formiga hoje só podem ser encontrados em bibliotecas e sebos, mas seus versos continuam atuais e necessários. Entre eles, destaca-se a delicadeza de Dádiva, em que escreve:
“Ser pássaro
E voar o infinito
Quer seja o meu último
Castigo.”
Mais do que poetisa, Violeta foi uma mulher que ousou transformar dor em beleza e vida em poesia. Uma voz feminina que, mesmo interrompida cedo demais, segue ecoando no imaginário cultural paraibano e brasileiro.
				



